Como está a sua saúde mental?
- Revista Personalità
- 25 de ago. de 2022
- 6 min de leitura
Por Daniela Brito

Dr. Luiz Carlos Fortes Filho
Médico graduado pela UFTM, Uberaba, residência Médica em Psiquiatria pelo HSVP/SES DF, Brasília, Título de Especialista em Psiquiatria pela ABP, médico psiquiatra do quadro da EBSERH e da UFTM, diretor clínico da Fundação Gregório F. Baremblitt,de Uberaba.
Hoje, a saúde mental é extremamente importante para a qualidade de vida das pessoas. Algo essencial para uma vida em equilíbrio em meio a correria do dia a dia. A figura do médico especialista na área é fundamental para ajudar o ser humano na busca do bem-estar e, ao mesmo tempo, tratar um transtorno mental, seja uma ansiedade, depressão e outras patologias relacionadas.
Dados na Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que uma em cada dez pessoas no mundo sofre de algum distúrbio mental. Por isso é importante a ajuda profissional.
O médico psiquiatra Luiz Carlos Fortes Filho é uma referência na área e explica todas as nuances que envolve a saúde mental, desde diagnósticos, tratamentos, a importância da família para a busca do bem-estar do paciente até os preconceitos relacionados às doenças mentais. "Sem saúde mental, viver pode se tornar algo ainda muito mais difícil", diz o especialista em psiquiatria e diretor clínico da Fundação Gregório Franklin Baremblitt, o centro de atenção psicossocial (Caps) Maria Boneca. Ele fala como a pandemia impactou a saúde mental das pessoas e mostra ainda que manter a mente ativa é extremamente importante para uma vida saudável como dormir bem, dar gargalhadas, fazer exercícios e até apreciar o belo. E faz um alerta "Diante de perturbações maiores, não adie a busca por ajuda profissional".

Como o psiquiatra pode contribuir para a saúde mental do paciente? Dr. Luiz Carlos - O psiquiatra é o médico especialista em saúde mental. Dados de 2018, da OMS junto ao Ministério da Saúde, apontam que: Uma em cada dez pessoas no mundo sofre de algum distúrbio mental. No Brasil, 12% da população precisa de algum tratamento relativo à saúde mental e 3% da população apresenta transtornos mentais graves. Assim, o psiquiatra é responsável por diagnosticar possíveis problemas na saúde mental, traçar estratégias de tratamento, trabalhar junto a família um conjunto de ações em prol do bem estar do paciente, desmistificar estigmas e preconceitos, ajudar o paciente a entender a sua situação, escutar e auxiliar na dissolução de alguns sofrimentos, prescrever medicamentos que visam reduzir sintomas, identificar reações colaterais e buscar correções, solicitar exames complementares em várias situações, trabalhar em conjunto com psicólogos, terapeutas ocupacionais, enfermagem, nutrologos e nutricionistas, acompanhantes terapêuticos, educadores físicos, cuidadores, e outros médicos e profissionais de saúde e educação, em favor do paciente. Em alguns casos, intervindo no meio social e ocupacional a favor do paciente. Elaborando documentos necessários ao paciente, que o resguardem em seus direitos.
Qual a importância da saúde mental? Dr. Luiz Carlos - A Organização Mundial da Saúde (OMS) enfatiza que a saúde mental é “mais do que apenas a ausência de transtornos mentais ou deficiências”, mas também cuidar do bem-estar e da felicidade contínuos. Uma saúde mental comprometida afeta os relacionamentos, a qualidade de vida, as atividades do dia a dia. Sem saúde mental, viver pode se tornar algo ainda muito mais difícil. Claro que pode ser difícil tê-la na sua completude maior, mas é necessário que busquemos a condição mais favorável, ainda que “diferente”.
Quais atividades que podem melhorar a saúde mental? Dr. Luiz Carlos - A vida combina com criatividade e movimento. Precisamos de espaço psíquico, ou seja, de uma mente não abarrotada, que permita acessar o novo, que possa apreciar o belo, que tenha o devido descanso. Precisamos de atividades como dormir bem, trocas afetivas, sorrisos e algumas gargalhadas, conexões com a natureza, exercícios e movimentos que podemos ter cuidando de casa, práticas religiosas/espiritualistas, atividades que nos fazem sentir úteis, tais como auxiliar alguém, estudar, premiar os ouvidos e os sentidos com sons agradáveis, músicas, organização nas rotinas, praticar métodos de reduzir a tensão e a preocupação excessiva...
Uma boa estrutura familiar pode evitar um transtorno mental? Dr. Luiz Carlos - É muito favorável ter uma boa estrutura familiar, e mesmo que não seja suficiente para evitar um transtorno mental, poderá ser extremamente importante para um manejo mais satisfatório do problema a ser enfrentado.
Como não adoecer com a correria do dia a dia? Dr. Luiz Carlos - A doença é uma realidade em nossas vidas. Realmente fonte de sofrimento, nossa condição de seres vivos nos impõe esse risco significativo; porém, ajuda bastante a nos proteger disso, em meio a correria do dia a dia, termos algumas pausas, um momento de cochilo, um sono reparador, mantermos relações de amizade, exercitarmos a empatia, nos atentando para um equilíbrio em relação a tudo que consumimos, lembrarmos da nossa vida transitória e que merecemos sermos zelosos com ela, procurarmos oportunidades de praticar aquilo com que melhor nos identificamos, alguma dose de resignação e perseverança, além de bastante tolerância. Amor...
Hoje, a ansiedade e a depressão são muito evidentes no ser humano. Quais são os principais tratamentos?
Dr. Luiz Carlos - As medicações costumam ser ferramentas importantes para quando essas condições já estão instaladas e causando prejuízos significativos. A psicoterapia, geralmente feita pelos profissionais da Psicologia, também oferece preciosas oportunidades de entender melhor o que se passa e promover reformas no modo de pensar, ou na identificação de possibilidades de mudanças a favor da saúde, dentre outras questões. Podem ser individuais ou em grupos. Terapias somáticas e integrativas podem incluir massagens, alongamentos, danças, exercícios físicos, Yoga, aplicação de Reiki. Correção de hábitos nocivos, sobretudo quanto a ingestão de etílico e outras substâncias, também podem ser importantes estratégias de tratamento.
Como diferenciar tristeza de depressão? Dr. Luiz Carlos - Tristeza é uma emoção. Natural e importante termos esse tipo de vivência. Por exemplo, reagirmos com tristeza frente a injustiças, a violências, a perdas, para nos balizar, elaborarmos uma nova realidade, termos empatia. A depressão é um estado patológico, muitas vezes onde a tristeza nem tem exatamente um contexto, ou ocorre numa intensidade muito forte ou mais prolongada, e há muitos outros sintomas associados, tais como perda do prazer em geral, perda de energia, dificuldades cognitivas, mudanças no sono e no apetite, dentre outros.
Quais suas recomendações para controlar a ansiedade? Dr. Luiz Carlos - Primeiro - Lembrar que é natural sentirmos um pouco de ansiedade com bastante frequência, frente aos movimentos constantes da vida. Segundo - Lembrando-nos da transitoriedade de tudo, que daqui a pouco essa situação aflitiva nem mais deverá existir. Terceiro - Que essa emoção desgostosa pode sim ser administrada, ao invés de ela simplesmente tomar conta da gente. Quarto - Que enquanto adultos, podemos bem dar conta de carregar um pouco de angústia e ansiedade. Quinto - Focarmos um pouco em nossa existência espiritual ou algo assim, na nossa conexão com o divino, nossa transcendência, que podemos ser muito maior que aquilo que nos aflige. Utilizarmos bem o recurso da respiração, de uma boa ducha, do contato com os bichos, do trabalho manual, da arte, da atividade física, a nos dar potência de enfrentamento à ansiedade. Se preciso for, consultar com um médico quanto a tratamentos para a ansiedade, incluindo os remédios.
Como saber se o paciente precisa de terapia? Dr. Luiz Carlos - Principalmente diante de conflitos psíquicos e interpessoais, enfrentamentos de momentos mais difíceis da vida, lutos prolongados ou demasiadamente sofridos, necessidade de promover e sustentar mudanças de hábitos, validade de se investigar mais a fundo a origem de alguns sintomas e quando se vislumbra a possibilidade de resolução destes através da própria terapia, necessidade de se reformar pensamentos disfuncionais e fortalecer estratégias de auto controle emocional, dentre outras tantas.
A pandemia impactou a saúde mental das pessoas. Quais foram os principais transtornos que vieram no bojo da Covid-19?
Dr. Luiz Carlos - Sabemos que alguns quadros podem até mesmo terem ficado protegidos diante de uma menor exposição social, mas realmente há importante sintomatologia compatível com reações agudas a estresse, transtornos de adaptação, ansiedades de separação, crises de pânico, transtornos obsessivo-compulsivos, hipocondrias, insônia, transtornos de ansiedade generalizada, tiques, transtornos alimentares, abusos de bebidas, dependência de aparelhos eletrônicos, e casos conhecidos como "Síndrome da Cabana".
Quais suas recomendações para ter uma boa saúde mental? Dr. Luiz Carlos - Viver com equilíbrio. Manter vivos os sonhos, mas também não se importar de atualizá-los. Não se aprisionar a ideias de que os filhos existem para realizar seu projeto de vida. Sustentar uma individualidade, uma vida pessoal com certa independência e autorrealização. Cultivar o afeto em todos os meios. Respeitar as diferenças. Zelar do corpo, e não precisa de excessos, mas também da alma. Manter-se bem informado, mas não só de notícias trágicas. Filtrar aquilo que se ouve, não dar tanta importância às falas desagradáveis dos outros. Praticar solidariedade. Estudar. Buscar aprender coisas novas. Descansar. Movimentar-se. Ter cuidado com a ingestão de bebida alcoólica. Não se arriscar com drogas. Prestar atenção à natureza, manter contato positivo com plantas e animais. Trabalhar sentimentos tóxicos como mágoa, rancor, inveja, possessividade, egoísmo. Ser responsável, mas saber ser adulto é brincar um pouco a vida. Diante de perturbações maiores, não adie a busca por ajuda profissional.

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